Vamos recordar os casos mais famosos:
1) Gonzaga Mota com os coronéis;
2) Tasso Jereissati com Gonzaga Mota;
3) Juracy Magalhães com Ciro Gomes:
4) Camilo Santana com o clã Ferreira Gomes
OBS. Só o sucessor de Juracy, Antônio Cambraia, não traiu. Excesso de inibição ou, como ensinava Mauro Benevides, ainda deputado, ao ex-vereador Herval Sampaio, porque só o simplório é fiel mais de dez anos.
Agora, venhamos, nenhum antes teve o requinte do caririense Camilo, que é Santana. Saiu do nada, depois de duas derrotas (2000 e 2004) para prefeito em Barbalha, incentivado pela matriarca, para ser secretário de estado (com escândalo dos banheiros e tudo), deputado estadual e governador do Ceará por dois mandatos. Agora, já se considera senador eleito e, de quebra, quer eleger o insignificante Elmano de Freitas governador do Ceará, apostando nas suas fichas, nas do ex-presidiário Lula da Silva e na aliança de balcão com mais de uma centena de prefeitos. Como num filme, que lembra o clássico Conde de Monte Cristo (ao avesso, na origem), segurou com paciência a aliança, sobretudo, com Cid Gomes, governador do Ceará por dois mandatos, e esperou a indicação para a sucessão estadual, o que já era promessa, mesmo sendo do PT. Bancado de A a Z pelo clã Gomes, venceu a vaidade doentia do fraco Eunício Oliveira (MDB) e subordinou-se totalmente aos FGs, sujeitando também o seu partido (o PT), e foi aprendendo tudo. No segundo mandato ganhou mais alguma liberdade e ousou mostrar as unhas, começando pela manutenção da vice Maria Izolda (o sobrenome Cela não é bem digerido pelo dono do PT, o presidenciável Lula da Silva). Construiu uma maioria parlamentar e de apoio de prefeitos ao seu governo rico, porque usou e abusou do aumento de impostos e dos repasses federais da Covid-19.
Costurou, como parte final do plano, sua saída para concorrer ao Senado, incensado pelo próprio senador Cid Gomes (PDT). Maria Izolda assumiu o governo e engrossou o pescoço, ainda que não fosse o combinado, para ser sua própria sucessora, que parecia ser seu direito. Levou à diáspora o clã FG e herdou o governo e suas benesses, com Izolda, colocando tudo nas mãos do PT e de Lula da Silva, ungindo Elmano à candidatura ao governo e edificando uma campanha milionária com balcão generoso com quem quer aderir. Reduziu o grupo do clã FG, do qual fazia parte e onde comeu tudo por mais de uma década, a uma banda menor, tirando a sustentação do candidato Roberto Cláudio (PDT) e, de relance, reduzindo o espaço do seu ex-líder, o presidenciável Ciro Gomes, ao tempo que pretensamente engorda as urnas de Lula da Silva. Uma traição fatal, que inverte os papéis. Deixa, aparentemente, Cid e Ivo Gomes apoiando o PT de Camilo e Elmano, enquanto Ciro e Roberto Cláudio sentem escorregar o poder que detinham, perdendo o balcão dos prefeitos, deputados e até aliados históricos como secretário (consignado) Arialdo Pinho (ex-Beach Park).
Claro que a trama favoreceu o novo senhor Camilo Santana, mas soltou generosos espaços para o adversário, Capitão Wagner (UB), que mais uma vez se beneficia dos erros e da ambição do grupo que conduzia o poder. Era um suplente de deputado quando estourou a primeira greve geral da PM (2012), que o Capitão apoiou e foi vigorosamente acusado por Ciro Gomes de manipular a PM e a opinião pública. Na eleição seguinte virou o deputado estadual mais votado, depois foi o federal. Foi candidato a prefeito duas vezes e perdeu por uma beirinha (na última, até com manipulação de pesquisa, que foi desmoralizada no resultado final). Agora, ironicamente, lidera as pesquisas na corrida estadual, enquanto Elmano e Roberto Cláudio se digladiam na segunda posição, distanciados do primeiro.
Infelizmente, o Brasil está assim. O bem e os bons são ameaçados e até punidos, enquanto o mal e os maus proliferam e até pousam evidenciando suas benesses. O que se vê, sobretudo nos mais massivos veículos de comunicação, é a negação da corrupção insana, que quebrou o Brasil, que marcou a história política em passado bem recente (os governos do PT), determinada pela Justiça, e uma campanha eleitoral com a presença dos mesmos atores que foram protagonistas daquela história querendo e fazendo tudo para voltar à cena com a achincalhante proposta de COMBATER A CORRUPÇÃO.